O ex-deputado federal Adalberto Galvão, o Bebeto, iniciou sua trajetória política na segunda metade da década de 70, no MR8, organização que tinha uma célula em Ilhéus. O Movimento Revolucionário 8 de Outubro foi um movimento político de extrema-esquerda marxista que participou da luta armada contra a ditadura militar brasileira.
A falta de liberdade era a marca da época. A missão às escondidas era articular silenciosamente os partidos de esquerda para, mesmo sob o forte olhar da ditadura, pudesse criar condições para cooptar militantes e organizar a base estudantil visando uma contestação ao regime pela luta.
Em 78, Bebeto ingressou no PCdoB, onde recebeu a tarefa de continuar a luta organizativa no campo estudantil, ainda sob forte vigilância da ditadura. Foi da direção da União Estadual dos Estudantes, representando a posição do partido, até chegar os anos 80, quando participou do processo da luta democrática, de contestação do “sindicalismo pelego”, como intitula, até então, comandado pelos militares.
A escolha à época pelo PCdoB até hoje é justificada. “A luta sindical era quem mais incorporava a capacidade de contradição com o capitalismo, abrindo frestas de liberdade no campo do trabalho para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora. Era luta por emprego, salário e liberdade”, assegura.
Também lhe coube a tarefa de organizar a ação sindical na região, em especial, nas fábricas de cacau para arregimentar militantes e organizar a retomada do sindicato. Bebeto era funcionário da então poderosa Barreto de Araújo. Estrategicamente conseguiu uma mudança de posto que foi fundamental na organização dos trabalhadores. Saiu do setor administrativo e foi trabalhar na produção da indústria.
“Lá era o centro nevrálgico da contradição de classe em função da produção realizada, da expropriação praticada pelo capital em relação ao trabalho realizado por milhares de trabalhadores”, afirma. Paralelo a esta ação mais localizada, começou a circular por todas as indústrias moageiras da região. A meta era articular nas fábricas a retomada do sindicato, que estava sob a tutela do regime militar. Em 82, a primeira vitória: o sindicato avançou e passou a operar através de uma junta governativa. Bebeto organizou a primeira greve dos trabalhadores na indústria do cacau, em 1984. Um momento histórico na região.
Em 1992 foi o primeiro comunista a conquistar um mandato de vereador em Ilhéus. Não conseguiu se reeleger em 96. “Mas olhei pra frente”, afirma. Foi Assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Prefeitura de Ilhéus, no governo do então prefeito Jabes Ribeiro. Em seguida voltou ao movimento sindical, deixou o PCdoB e se dedicou à tarefa de organizar a Força Sindical na Bahia. Foi diretor da CUT estadual, contemporâneo do hoje senador Jaques Wagner. Em 2010 ensaiou um voo mais alto: ser deputado estadual. “Sim, isso mesmo. A ideia era (ser) candidato a deputado estadual”, mas o partido alterou o status da candidatura para federal. Teve que desconstruir bases, desfazer acordos e terminou na quinta suplência da Bahia na Câmara Federal. Em 2014, dobrou a votação anterior com mais de 97 mil votos, elegendo-se deputado federal. Quatro anos depois, optou por não tentar a reeleição. E tem que justificar essa decisão por onde passa até hoje.
“Para a composição da chapa majoritária alguns tiveram que fazer sacrifícios pela necessidade de consequências diretas na composição das chapas, um esforço de tentar pacificar o nosso campo político. Apelos foram feitos, demoramos 60 dias para debater, realizei plenárias e decidi abrir mão. Fizemos um ajuste que, novamente, faria. A luta política é maior que o cargo que eventualmente você representa”, justifica a decisão.
Candidato derrotado a prefeito de Ilhéus em 2016, Bebeto atribui o insucesso a uma decisão que tomou em Brasília. Antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Bebeto assegura que convergiam 50 por cento de intenção de voto à sua candidatura em Ilhéus. Ao votar contra o impeachment, teria perdido musculatura eleitoral. “Minha história é pequena, mas só eu posso falar por ela. Veio o desafio do impeachment, que tinha como escopo criminalizar Dilma sem nenhuma base institucional. Imputaram a ela uma responsabilidade não albergada pela Constituição. Uma responsabilidade política e não de infração político-administrativa. Disse ao partido que não votaria (a favor da saída) porque não havia crime ali praticado. Havia a possibilidade de votar e se votasse estaria convergindo com parte do sentimento da população de Ilhéus. Eu fiz a pesquisa. Eu preferi me perfilar contra, para zelar por minha história e sabendo que o desdobramento do impeachment poderia ser fatal para a minha candidatura”, se explica.
Agora, Bebeto anuncia sua pré-candidatura a prefeito de Ilhéus pelo PSB. Nesta entrevista exclusiva concedida ao jornalista Maurício Maron, ele fala da sua decisão, do momento político nacional, faz fortes críticas ao prefeito Mário Alexandre e diz como pretende governar Ilhéus, caso seja o escolhido da população, ano que vem.
Abaixo, leia a entrevista. É esclarecedora sob vários aspectos.