:: 16/jan/2017 . 18:00
Chineses preferem falar “distinto senhor” e “madame” em lugar de “camarada”
Aluna do ciclo primário faz saudação quotidiana à sua professora. Antigos costumes voltam e restabelecem a hierarquia e a ordem
Uma das práticas mais simbólicas do radical comunismo chinês está desaparecendo de facto. Não é a primeira que morre, mas é uma das mais sensíveis para a metafísica igualitária socialista.
Falando para os 90 milhões de membros do Partido Comunista Chinês, o presidente Xi Jinping enviou uma única e fundamental mensagem:
“Não me chamem de presidente, não me chamem de secretário do partido. Chamem-me ‘camarada’” (“tongzhi” em chinês).
O igualitário tratamento de “camarada” foi obrigatório e universal na China marxista, escreveu o “The New York Times”.
Porém, hoje o tratamento de “tongzhi” ganhou conotações sexuais e afetivas, sendo típico no relacionamento entre o público LGBT, explicou o jornal nova-iorquino.
Por isso, o Centro de Pequim para LGBT se autodenomina Beijing Tongzhi Zhongxin, ou Centro Camarada de Pequim.
O povo chinês não quer saber de todo esse igualitarismo e na vida prática abandonou a vulgar fórmula.
Mao (centro esquerda) quis fazer a igualdade completa entre ‘camaradas’ na Revolução Cultural.
Afinando com a tendência popular, a Secretaria de Transporte Municipal de Pequim divulgou circular em fins de maio de 2016 recomendando aos motoristas e cobradores de não mais tratarem os passageiros de “camaradas”, informou a mídia oficial.
“Utilizar o termo camarada para se dirigir ao público não é apropriado”, explicou um funcionário da prefeitura ao jornal oficial “Jornal para a Juventude de Pequim”.
Desde essa data, nos ônibus da cidade só se ouve falar de “senhoras” e “senhores”. Mas também de “amiguinhos” para as crianças, de “alunos”, se estão indo à escola, e de “estudantes” para ao maiorzinhos.
Para os estrangeiros vale “jovem senhorita”, “bela senhora”, “distinto senhor” e até “mestre” (categoria que na Revolução Cultural foi cruelmente chacinada). Também se pode ouvir o requintado “madame”.
A recomendação oficial para a terceira idade é de tratar de “mestre ancião” ou “senhor ancião”. A exceção é para os saudosistas da velha guerra de classes comunista, que ainda usam o macacão único maoísta. Estes podem ser tratados de “velhos camaradas”, noticiou o jornal “La Vanguardia” de Barcelona.
O termo “camarada” veio da União Soviética, para exprimir maior igualdade. Mas na última década passou a ser usado como sinônimo de homossexual, diz “La Vanguardia”.
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